Centro Histórico
O Centro Histórico de Viseu onde nasceu a cidade de Viseu tem 2500 anos de História.
A primeira ocupação deste espaço data da Idade do Ferro, conhecendo-se em diversos pontos do centro histórico restos de um grande povoado fortificado com cerca de 6ha e que dispunha de um fosso, que em alguns pontos atingia os três metros de profundidade. As cabanas documentadas são estruturas circulares, por vezes com uma fiada de pedras a servir de embasamento a paredes de materiais perecíveis. Do que hoje conhecemos este povoado terá atingido o seu apogeu entre o século IV a.C. e a chegada dos Romanos no século II a.C.
Roma veio imprimir alterações substanciais ao espaço antes ocupado pelo antigo povoado proto‐histórico, que progressivamente foi sendo alterado para dar origem a uma cidade romana de urbanismo ortogonal. A acrópole continuou a ser o ponto central da cidade, ocupado pelo forum, mas a área urbana expandiu-se para oriente e para sul. Dos lados norte e ocidental, os limites continuaram a definir‐se por uma muralha, que passaria quase no cimo da encosta. Esta tinha pelo menos quatro portas que se localizavam nos extremos das principais vias: cardus e decumanus. Junto de cada uma das portas tem vindo a ser identificadas as necrópoles romanas e tardo romanas. O cardus permanece ainda hoje no perfil da Rua Direita e o decumanus, seguiria aproximadamente o traçado da rua do Gonçalinho. A entrada principal do forum estaria alinhada com o decumanus e situaria-se no local onde hoje está a sé e o seu templo principal estava situado no espaço ocupado pela Igreja da Misericórdia. No subsolo do claustro do Museu de Grão Vasco foi ainda identificada o que parecem ser os restos da basílica.
Os séculos III e IV vieram ditar novas alterações significativas na cidade como abandono progressivo de alguns edifícios públicos, tais como o fórum e provavelmente o anfiteatro que devia situar-se entre o Fórum e a porta localizada na Rua do Gonçalinho aproveitando o desnível natural. Uma nova muralha é erguida nesta época, tal como tantas outras que foram erguidas nas cidades tardo romanas da Lusitânia. Muitas destas muralhas romanas tardias responderam a vários éditos imperiais que determinaram a sua construção. Na zona antes ocupada pelo fórum vemos surgir novas construções provavelmente ligadas ao poder episcopal que aqui se instala. Viseu é desde o período das monarquias suevo e visigoda (séculos V a VIII d.C.) uma sede episcopal e foram os bispos da cidade que substituíram o poder da curia municipal romana.
Entre os séculos VIII e X, a região onde Viseu se integra estava numa terra de ninguém, isto é não estava efetivamente submetida nem ao poder cristão asturiano instalado a norte do rio Douro, nem ao poder islâmico situado a sul da península. Atualmente os dados apontam para que na região hoje ocupada por Portugal, a cidade mais a norte que terá tido um controle efetivo islâmico seria a cidade de Coimbra. Não obstante esta sua posição no quadro político de então, Viseu continuou a ser ocupada e referenciada na documentação, pelo que se julga que atuariam aqui poderes locais que governariam a cidade. A importância da mesma como espaço urbano é reconhecida pelo facto de ter sido conquistada numa campanha dirigida pelo próprio rei Asturiano Afonso III no século IX. Todavia, vem a ser perdida para o poder islâmico após as campanhas lideradas por Almançor, chefe do exército islâmico do califa Hisham II, no final do século X. Arqueologicamente pouco sabemos desta fase da cidade, sendo apenas conhecida o que resta de uma das suas igrejas situadas junto a uma das portas da cidade e localizada no mesmo local onde antes existia uma das necrópoles romanas. Ainda hoje se localiza ali uma igreja erguida no século XVIII dedicada a São Miguel, mantendo ainda a tradição de que ali estaria sepultado Rodrigo, o último rei do Visigodos, tradição que nasce da Crónias Asturianas do século X.
No século XII a acrópole é novamente alterada com o desenvolvimento de um programa de construções, que incluíam um paço e uma igreja catedral, promovidos pelos condes D. Henrique e D. Teresa. Aqui poderá ter nascido o príncipe herdeiro e primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques. Um dos principais vestígios deste período é a própria Catedral de Viseu que ainda ostenta hoje parte substancial da sua construção românico-gótica (séculos XIII-XIV). Pouco mais sabemos desta cidade condal. A muralha que circundava a cidade deveria ser ainda a velha muralha tardo romana, pois durante a Idade Média há vários relatos de que a cidade estava desprotegia e que carecia de nova muralha. Esta apenas viria a ser erguida entre os reinados de D. João I (1385-1433) e de D. Afonso V (1438-1477).
O século XVI é marcado por novas construções. Na acrópole define-se adro da Catedral, que estava delimitado pela Sé, a nascente e pelo aljube eclesiástico a sul (antiga torre de menagem), a que se juntaram as construções da igreja da Misericórdia (a primitiva igreja foi edificada na segunda metade do século XVI) a poente e do Seminário de Nossa Senhora da Esperança (construção maneirista, iniciada em 1593) a norte. Este edifício, também conhecido por Paço dos Três Escalões, que estabelecia ligação com o paço episcopal e com a Catedral. Junto ao Paço dos Três Escalões foram edificadas algumas habitações quinhentistas, como a Casa do Miradouro (construção renascentista, edificada nos inícios do século XVI) e a casa com passadiço sobre a Rua Escura, com arco com ornatos manuelinos. Nas ruas envolventes da Catedral terão sido reformadas várias habitações nas primeiras décadas do século XVI. A outra grande obra realizada no século XVI, sob iniciativa do bispo D. Miguel da Silva, foi o claustro renascentista da Catedral, desenhado pelo arquiteto italiano Francesco de Cremona. A Catedral e o aljube eclesiástico fechavam a parte sul da Praça do concelho (atual Praça D. Duarte), onde pelo menos desde meados do século XVI se situava o edifício dos Paços do Concelho. Nesta Praça do Concelho situava‐se ainda o pelourinho e a partir da praça desenhavam-se vários arruamentos de perfil estreito e sinuoso que ligavam às sete portas que a nova muralha ostentava. A rua mais movimentada era a Rua Direita, na época também denominada por Rua das Tendas.
No século XVIII a cidade sofreu alterações significativas na fisionomia de alguns edifícios e no crescimento envolvente ao perímetro muralhado. A Catedral recebe uma profunda reforma barroca, que alterou essencialmente o seu aspeto interior. É também desta época a construção da atual igreja da Misericórdia, edificada em 1775. Na envolvente do Adro da Sé e do Rossio do Concelho foram edificados vários solares e espaços religiosos, que ostentam fachadas com decoração mais opulenta e com dimensões superiores às construções que ali e situavam anteriormente. No século XVIII presenciou‐se também alguma dispersão na distribuição das atividades económicas, que se expandiram para os núcleos extra‐muros então em crescimento.
A primeira grande expansão da cidade fez‐se, no século XIX, em direção ao sul e a poente, tendo-se criado no Largo do Município um novo centro urbano, de carácter mais cívico, em contraste com o antigo centro religioso situado na acrópole. Heinrich F. Link, um alemão em viagem de estudo por Portugal durante o ano de 1798, descreve Viseu como uma “cidade considerável com 900 fogos, três paróquias e três conventos”, mas “formada por ruas estreitas e sujas e na maior parte dos casos por casas miseráveis”.
Em 1835, com a reforma de Mouzinho da Silveira, Viseu assume uma crescente centralidade no plano político, administrativo e comercial. Durante a época da Regeneração e, sobretudo, no último quartel do século XIX, a cidade expande-se surgindo novos arruamentos e novas centralidades. A iluminação pública faz a sua aparição em 1842. Entre a década de 1950 e os inícios do século XX, novas artérias estruturantes da cidade surgiram. A Rua Formosa é iniciada em 1859; e a Rua do Comércio entre 1900 e 1902, afirmando doravante a centralidade comercial da cidade. Destaca‐se ainda a construção do novo mercado 2 de Maio, concluído em 1880.
VISEU NOVO
Projetos Emblemáticos:
Orfeão
Casa das Bocas
Casa das Águas