Cava de Viriato
A Cava de Viriato é um dos sítios arqueológicos mais emblemáticos do nosso país, mas também um dos mais enigmáticos. Conhecido e estudado desde o século XVII por vários autores de renome, este sítio arqueológico continua a esconder a sua fundação e função originais.
Trata-se de um recinto octogonal com uma área de cerca de 38 ha interiores. Cada lado do octógono tem uma média de 270 m no limite exterior, fazendo com que o perímetro tenha aproximadamente 2160 m de comprimento. Esta estrutura foi construída exclusivamente com recursos locais, tendo sido o seu interior aplanado e construído um fosso periférico que foi escavado até aos níveis das águas subterrâneas. As terras removidas do fosso foram utilizadas para construir a muralha de terra, que originalmente atingiria uma altura de aproximadamente 7 m. Esta foi compactada e provavelmente coberta com uma paliçada.
A Cava é um dos monumentos que mais cedo despertou a atenção dos curiosos, bem como dos estudiosos. A primeira referência data do início do século XVII. A sua ligação ao lendário líder Lusitano, Viriato, data de 1630. A interpretação da Cava quer como acampamento militar quer Lusitano quer Romano percorre vários autores desde então. Mais recentemente Vasco Mantas, apesar de considerar a existência de um pequeno acampamento romano dentro do octógono, admite que o monumento pode corresponder a um campo atribuível à administração Islâmica, visão que foi reforçada com novos argumentos por Helena Catarino em 2005, que a atribuiu à época das campanhas de Almansor, nos finais do século X. Jorge de Alarcão em 2006 também apontou para uma possível fundação do início da Idade Média mas correlaciona-a com as elites de origem asturiana, mais especificamente com o rei leonês Ramiro.
Planta de João de Paiva
Tendo em conta a significativa escassez de restos arqueológicos, a tese de um grande campo militar em vindo a perder os seus apoiantes. A sua dimensão também inviabiliza esta possibilidade.
Ainda que possa ter havido influência islâmica na construção da Cava com a eventualidade de poder ter sido um arquiteto islâmico desconhecido a projetá-la, as circunstâncias políticas apontam para que a mesma tenha sido erguida num contexto de poder cristão. Viseu já havia ganho algum protagonismo no tempo de Ordonho II, enquanto ainda rei da Galiza, e esse protagonismo haveria de vir a ser confirmado pelo seu filho Ramiro, entre 926-931, quando assume, como herdeiro, a metade sul desse reino. Deve ter sido neste contexto específico que a Cava é planeada e mandada construir. Não para ser um acampamento, mas para se assumir como uma nova cidade áulica que marcava o inicio de um novo reino e uma nova dinastia. As vicissitudes políticas do reino astur-leonês, contudo, catapultaram Ramiro para o trono de Leão a partir de 931. Viseu como cidade áulica deixava então de fazer sentido, o que sustenta a ideia de a Cava ter sido um projeto de cidade ambicioso que não foi terminado. Dados recentes obtidos na investigação levada a cabo no âmbito do programa Viseu Património mostram que dois lados do octógono não foram concluídos, o que sustenta a ideia de que as estruturas como abandonadas mesmo antes de estarem prontas.